Bacalhau & Chips


Bacalhau & Chips

 

No outro dia deitei-me a pensar na última noite que passei em Lisboa antes de vir para Londres. Naquilo que me fez largar amigos, família e o meu chihuahua Bijou. Mal eu sabia que hoje, passados quatro anos, aquilo de que sinto mais saudades é mesmo o peixe no prato e o cheiro a mar (afinal somos um país de marinheiros). Andamos sempre a dizer que havemos de fazer isto ou aquilo, e eu fiz mesmo. Vim para a terra das minhas queridas Spice Girls e por aqui fui ficando. A cidade é demasiado grande, demasiado cara, demasiado fria, demasiado longe do mar. Os ingleses (os poucos que por cá se encontram) bebem demais e sentem de menos. Mas as minhas saudades não são muitas. Claro que quando vejo um galo de Barcelos, uma garrafa de Sagres ou ouço a voz do Goucha me vem um patriotismo parvo à cabeça. Mas quando me lembro de que este era o meu sonho, não hápasteis de nata no mundo que me façam chorar. depois, há a renda para pagar, trabalho para ser feito, roupa para lavar, amigos para encontrar e um namorado para satisfazer e ser satisfeita. Mais vale deixar o bacalhau de lado.

 

Eu nunca cheguei a crescer, e acreditem que nunca quis ser nenhum Peter Pan. Só acho que crescer é uma grande treta. Afinal, ninguém aqui cresceu coisa nenhumaO ‘cresce e aparece’ não pega comigo. Apareci antes de crescer. Ora vejam, antes era implorar por uma casa de bonecas, agora e adiar o dia da limpeza da casa. Antes era a cozinha de plástico colorida no canto do quarto, agora e a satisfação de inventar uma granda receita. Era salivar por doces. Oops, aqui não mudou nada. Onde isto se complica, équando nos apercebemos de que esta coisa da liberdade era afinal uma farsa e de que a felicidade (com F grande) deve ter sido inventada por uma religião barata. Mas que ela existe existe, ouvimos dizer. Então andamos todos enganados. As coisas não mudam, os sonhos não se desfazem e nós não crescemos. E depois vem o medo. O medo que sempre cáesteve e que nunca nos largou. Chamem-lhe medo, ansiedade ou o que quiserem. Esse cácontinua. Somos uma cambada de animais assustadiços. Medo com medo podia ser tipo menos com menos dá mais e assim ficávamos todos mais contentes... Aqui ou em Lisboa.

 

E agora vou mas e comer um bacalhau à Brás, que este porcaria do fish & chips não é comida que se ofereça a ninguém.



Joana Margarida Quintino


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