Soleil, vien ici



O céu azula-se tardiamente e acicata a vontade burguesa de nos vitaminarmos por entre miradouros e esplanadas. Vivemos em maior condescendência para com a urbanização turística que diariamente nos reveste a capital. A que queremos abraçar como sendo nossa e que partilhamos com o mesmo orgulho com que apresentamos os nossos filhos ao futuro. As fotografias de menus gastronómicos tornam-se mais coloridas e rebuscadas e os conselhos de saúde e beleza dos profetas do virtual começam a baralhar-se com imagens bronzeadas de folia despretensiosa por parte dos que gostam de engolir a vida como quem consegue sorver um calipo de uma vez só. O calor pornografiza a juventude e efervescência da nossa ventura e nós queremos ser mais bonitos e divertidos de forma a nos integramos melhor num cenário de cores exóticas e quentes que nos acolhe a fadiga de forma mais competente que o cinzento consecutivo e crónico dos meses que findaram. A preguiça suicida-se sem deixar carta de despedida e tudo faz agora mais sentido. Até o ginásio e o gin, a música ao ar livre e os quiosques caríssimos onde somos atendidos por betos antipáticos que experienciam o seu primeiro emprego para poderem ir ao sudoeste. As peles pálidas assumem a vermelhidão e os mais audazes passeiam o seu bronzeado como se de uma competição de tons se tratasse. Não importa porque quando há sol já nada é tão ridículo. Será da luz? 

É. Da que ele reflete dentro de nós e que graciosamente deixamos transparecer. Porque se for para nos queixarmos, ao menos que seja do bafo da atmosfera e do excesso de gelo na caipira. 

Esta é a temperatura média da vida. Menos do que isto é para hibernar.

Zé Manel 

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